É comum que a bio de um DJ comece com algum tipo de referência a tocar instrumentos desde os 6 anos ou frequentar aulas de música erudita desde os 5. No caso da lisboeta M. Dusa, não há registo de tais feitos, mas é obrigatório mencionar que, muito por influência paterna, a música sempre foi algo de fundamental na sua identidade. E por isso, era vulgar que trocasse as brincadeiras normais da idade, por horas e horas perdidas de volta de CDs, K7s e revistas, dos seus artistas preferidos, cujo lote ia de um extremo a outro, fosse música pop, rock pesado ou electrónica.
A necessidade de expressar esse lado da sua identidade e a curiosidade pela música, levou-a desde cedo a embrenhar-se no mundo do clubbing e do DJing, grandemente reforçadas por uma participação activa como raver nos primórdios da cena de música de dança em Portugal, ainda em meados dos anos 90. A passagem para o lado de dentro da cabine deu-se, como em tantos casos, de maneira natural e inevitável, numa festa de amigos em Maio de 2003, no Bairro Alto. A partir desse momento, os convites começam a surgir para dar largas à paixão e talento inatos então descobertos. Nos 10 anos que leva de carreira, actua em discotecas e eventos como os famosos Afters do Paradise Garage, Lisboa Parade, W Disco, Queens, Marginal (Madeira), Coconuts, The Loft, Hit Club, Sunsets No solo Agua, Tamariz, Jezebel, BBC, Lollipop, Queima das Fitas de Coimbra e da Covilhã, Seven Vilamoura, Sasha Summer Sessions, entre outros.
Na década que já leva de vivência em cabine, a característica mais marcante da sua abordagem à missão de dar música aos outros, é sem dúvida uma capacidade pouco comum de fazer a ponte entre estilos mais acessíveis e outros mais underground, fruto de uma cultura musical vasta que nunca esteve muito interessada em deixar-se catalogar ou limitar em géneros, e de uma abordagem descomprometida e independente à música de dança. É por isso que o rol de DJs com quem já partilhou cartazes, inclui um “quem é quem” da música de dança nacional dos últimos 15 anos, como Pedro Cazanova, Daveed, Gilvaia, Geninho, Poppy, Magazino, Felix da Cat, Pedro Tabuada, King Bizz, Heartbreakerz, Xl Garcia, Luís Leite, entre outros, e um apreciável leque de internacionais, como Dennis Ferrer, The Martinez Brothers, Mark Doyle, Timo Maas e Jamie Lewis, com os elogios de uns e outros (às vezes misturados com um saudável sentido de surpresa), a surgirem em catadupa. Sempre com um sorriso na cara de quem tem um cada vez mais raro sentido de pista e de celebração, M. Dusa guia o público dançante desde o deep-house, ao house e ao techno, e de volta “a casa”, com uma alegria, positivismo e fluidez espontâneos, que para quem contacta com o seu trabalho pela 1ª vez, chegam a ser desarmantes.
Para quem ainda não teve essa chance, tudo isto seriam pouco mais do que palavras num papel, não fossem as distinções importantes que já cimentam o que referimos: em 2007, vê o seu trabalho ser reconhecido com o prémio de DJ Revelação 2006 atribuído nos PortugalNight Awards. E em 2008 é nomeada pela Noite.pt na categoria de Melhor DJ Feminina.
Mas há algo que fala mais alto que qualquer lista de nomes ou enumeração de distinções. Algo que é difícil de definir, mas que quem a viu chorar lágrimas de alegria e já de saudade, no fim do seu último gig antes de ter a sua filha, sabe o que é. Algo que quem vê as caras sorridentes e luminosas de quem sai do club no fim de uma sua prestação, entende. É que para M. Dusa, ser DJ, entregar-se à música, não tem a ver com querer holofotes focados em si ou insuflar o ego. É uma forma de vida à qual se dedica com alma, é uma extensão daquilo que é, algo que não se descreve ou lê, é algo que se sente.